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sábado, 17 de abril de 2010

MALHAÇÃO ESPECIAL 15 ANOS

Elenco de 95 de 'Malhação' se reúne para celebrar os 15 anos da novela

Pesos, steps e esteiras em meio a corpos jovens metidos em collants coloridos sobre shorts de cores tão vibrantes quanto, e rabos de cavalo bem altos na cabeça. Neste cenário, chega um jovem com suspensórios e diz: “Que cheiro de morcego morto!”. Era dia 24 de abril de 1995 e o primeiro capítulo de “Malhação” estava no ar.

— Foi a primeira fala do Héricles e ficou muito marcada. Ele desvendou o mistério do odor que rondava a academia — recorda Danton Mello, de 36 anos, o protagonista do projeto, que chegava para alavancar a audiência do horário anterior à novela das seis e preencher a lacuna de um programa voltado para os jovens.

Mais de 3.700 capítulos depois, a novelinha teen completa 15 anos no ar no sábado. Ao longo da semana, o EXTRA vai lembrar os momentos marcantes, os personagens, o valor de ser a mocinha do folhetim das 17h30m, os temas polêmicos e a ligação com a música. Mas, antes de tudo, nada melhor do que recordar os velhos tempos com a turma de 1995.


Na última segunda-feira, a Academia da Praia, na Barra da Tijuca, teve seu dia de “Malhação”. Enquanto as aulas de verdade rolavam, atores da primeira fase da novela começaram a chegar, num clima que lembrava os anos 90. Porém, no lugar da conversa sobre gatinhos e namoricos, o papo começou com as mamães (corujas) Juliana Martins (Bela), Daniela Pessoa (Magali) e Ana Paula Tabalipa (Tainá), todas tagarelando sobre suas crias. A nova responsabilidade ainda impediu Fernanda Rodrigues de comparecer à sessão de fotos, já que precisava vacinar a pequena Luiza, de 4 meses.

— A Luiza da Fernanda é a terceira filha com esse nome na nossa turma. O Danton tem uma também, mas eu fui a primeira a escolher — garante Juliana Martins, de 36 anos, que foi a mocinha romântica Bela e hoje se dedica ao teatro: — Achei que o personagem em “Malhação” seria raso, mas ela era dramática, tinha nuances.

Na trama, Bela sofria com o machismo do noivo Romão (Luigi Baricelli) e se encantava pelo tímido Héricles (Danton), que, por sua vez, era alvo dos colegas por ser virgem aos 17 anos.

— O legal do Héricles é que ele assumia a virgindade e as meninas adoravam. Ele se guardava para a grega Cassandra — recorda Danton, que na época estava casado com a escritora Laura Malin.

“Malhação” já exibia sua função de celeiro de talentos ao trazer à TV novos rostos, como André Marques, hoje no comando do “Video show”, ao lado do ex-colega de “academia” Luigi Baricelli.

— Foi o início de tudo. Na segunda cena que gravei, lembro que coloquei meu jeito de falar. O diretor disse que estava diferente do texto, mas que estava bom. Foi importante para me dar segurança — conta o inesquecível Mocotó.

Mas a novela teen também trazia caras conhecidas, como Carolina Dieckmann, que viveu a brejeira Açucena em “Tropicaliente”, e o ex-paquito Cláudio Heinrich, que assume a falta de experiência na época do professor de judô Dado — fato que acomete ainda hoje muitos atores na novelinha.

— (Roberto) Talma, o diretor, teve muita paciência comigo. Eu era muito ruim, errava posicionamento de câmeras, gaguejava, não conseguia decorar as falas. Mas estudei muito e fui melhorando — conta Heinrich, que hoje integra o elenco de “Bela, a feia”, na Record.

Numa época em que a internet se reduzia a e-mail (para poucos), os atores acreditam que faziam diferença para os adolescentes mostrando na tela dramas pelos quais eles mesmos passavam.

— A época da puberdade do Fabinho foi muito engraçada, porque era a minha também — diz Bruno De Luca, hoje aos 27 anos, que se recorda de querer beijar todas as fãs.

Mas esta não foi a única marca que “Malhação” deixou em Bruno:

— O diretor me deixava acompanhar as cenas, o que fez com que eu me interessasse em ter uma produtora, algo que, hoje, virou realidade.



A identificação com os adolescentes se refletiu em números, já que o sucesso de “Malhação” foi estrondoso no ano de estreia. O esperado pela emissora era que alcançasse 14 pontos de audiência, mas batia 30 sucessivamente. E as fãs lotavam a entrada da Cinédia, onde era gravada a novela, em Jacarepaguá.

— Era uma loucura! Conhecíamos as fãs pelos nomes. Algumas ficavam de castigo, aí sumiam e depois voltavam — recorda Ana Paula Tabalipa, que vivia uma aluna de natação e, hoje, louríssima e com dreadlocks, se prepara para viver Iara em “Ribeirão do tempo”, novela que estreia em maio na Record.

O frenesi em torno dos personagens era tanto que Luiza, uma garota apaixonada por seu professor de judô, colocou Fernanda Rodrigues no posto de campeã de cartas da Globo na época.

— Enchia caixas de ar-condicionado com cartas. A maioria era de meninas que me davam razão e se identificavam com os dramas — diz Fernanda, aos 30.

Autora da primeira temporada, Ana Maria Moretzsohn lembra que recebeu a encomenda de produzir uma “novela eterna”. Até agora, cumpriu o objetivo.

— A primeira ação foi criar um núcleo familiar dentro da academia, com a mãe Paula (Silvia Pfeifer) e os filhos Fabinho e Luiza. Esse modelo funcionou e continua até hoje — analisa a autora, de 62 anos.

Durante esses 15 anos, os temas homossexualidade, Aids, gravidez e drogas foram retratados mais de uma vez. O que não é problema algum para Ana Maria:

— Sempre tem gente nova entrando no universo da novela. A criança de 8 anos vê desenho e depois, aos 10, vai ver “Malhação”. Não terá visto o que passou. E o jovem gosta de ser retratado.

A estrutura familiar e os dramas juvenis continuam às 17h30m, mas “Malhação” já não é a mesma. Desde 1999, a academia deu lugar a um colégio, que já virou anexo a um shopping e até mudou de nome — sem contar a pequena fase que foi interativa no quarto de Mocotó. Tudo em busca da atenção do jovem, que anda cada vez mais disputada.

— Sinto que, agora, o público está mais difícil de ser cativado, talvez por conta das novas mídias: internet, DVD, TV a cabo e etc., que estão se popularizando cada vez mais — comenta Ricardo Hofstetter, autor da temporada atual.

O tempo passou, mas as lembranças para a turma de 95 serão eternas, especialmente se vêm na voz de Lulu Santos.

— Fui DJ na festa do meu filho e coloquei “Assim caminha a humanidade” (abertura das tramas de 95 a 99). Ele ficou bravo, mas não pude fazer nada. Tem que ter! — festeja Daniela Pessoa.

Agora leia algumas curiosidades de Malhação

Era para durar três anos
A ideia inicial dos produtores de “Malhação” era que a novela durasse três anos. Por ora, a TV Globo não vê chances de o programa sair da grade.

Outro nome
Em 1998, a novela sofreu uma grande mudança, abandonou a academia e passou a investir em $ao ar livre. Por conta disso, “Malhação” quase virou “Radical”.

Aventura no motel
Certo dia, após a gravação, André Marques meteu Bruno De Luca numa furada: “Ele me levou para um motel com uma menina que eu estava ficando, mas no final não tinha dinheiro para pagar a conta!”, conta Bruno.

Bela virou Luiza
No piloto de “Malhação”, Fernanda Rodrigues interpretou Bela. Quando o programa teve os ajustes finais para ir ao ar, a personagem ganhou mais idade e Fernanda ficou com o papel de Luiza, que tinha 15 anos, como ela.

Dado existiu e é famoso
O judoca Dado foi inspirado no lutador Flavio Canto. “Flavio fazia judô com meu filho, Guga Coelho, e era um menino muito zen. Criei o professor da academia pensando nele”, recorda a autora Ana Maria Moretzsohn.

Apoio da novela
A atriz Carla Regina largou o cargo de Malandrete (assistente de palco do Sérgio Mallandro), aos 19 anos, para integrar o elenco de apoio fixo de “Malhação”, em 1995.

Censura nela
“Malhação” foi multada por uma cena de sexo protagonizada por Cláudio Heinrich e Gisele Fraga no vestiário.

Forte: GLOBO e Por: por Aline Conde

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